O filho também é do pai

Para Winnicott o bebê é “uma organização em marcha” e a fase edípica um momento importante do desenvolvimento, mas que nem sempre é atingido plenamente.
Sem deixar de levar em conta o pensamento freudiano e a importância do complexo de édipo, Winnicott se volta para os estágios iniciais e suas viscissitudes.
O estabelecimento da terceiridade na vida da pessoa é pensado pela ótica das relações iniciais. Ele enfatiza a importância do ambiente para o amadurecimento e sob este ponto de vista a conquista da independência relativa a partir da situação inicial de dependência absoluta do bebê.
Claudia Dias Rosa salienta como Winnicott tende a valorizar a presença real do pai na vida do bebê e de sua mãe. Ela explicita 4 fases do desenvolvimento e em cada uma delas a participação paterna. Estas fases vão do momento mais inicial, em que o pai, fazendo parte do colo da mãe, é percebido de forma indiferenciada, ao momento do pai “edípico” agente da terceiridade e da diferença . Segundo esta autora, na obra de Winnicott, o pai tem múltiplas funções que progridem conforme o bebê se desenvolve. Ele tem lugar como facilitador para que o bebê adquira uma capacidade progressiva de percepção do objeto, em cada fase. Diz Winnicott:
“À medida em que o bebê fortalece seu ego… à medida que a tendência herdada à integração faz o bebê avançar…. a terceira pessoa desempenha ou parece desempenhar um grande papel…e é aqui que sugiro que o bebê tem probabilidade de fazer uso do pai como um diagrama para a sua própria integração… Se o pai não se encontra lá, o bebê tem de fazer o mesmo desenvolvimento, mas de modo mais árduo…”
O pai “capaz de sobreviver, castigar e perdoar” , de que nos fala Winnicott, é aquela figura que, já percebida em sua totalidade pelo bebê, tem sua importância como um elemento terceiro , real e presente. O pai (terceiro) que pode acolher de alguma maneira os impulsos hostis da criança faz diferença na maneira como ela se torna capaz de suportar em si mesma as pressões instintivas.
Com Winnicott e sua lente de aumento incidindo sobre os aspectos ambientais e mais precoces, podemos salientar o quanto a figura do pai e sua capacidade de conexão com o filho será agente facilitador futuro do processo de travessia edípica. Há um processo dialético e sincrônico: o pai está lá para ser encontrado quando o bebê se torna capaz de encontrá-lo.
curso pelo Instituo Gerar
https://institutogerar.com.br/cursos/o-filho-tambem-e-do-pai-reflexoes-psicanaliticas-sobre-a-paternidade/
inscrições para o curso no link acima
Professores:
Alexandre Coimbra Amaral: Psicólogo, terapeuta de casais, famílias e grupos. Escritor, autor de “Cartas de um terapeuta para seus momentos de crise” e “A Exaustão no topo da montanha”. Fundador do Grupo Terapêutico de Homens, que vem desconstruindo machismos há quatro anos e meio em encontros quinzenais).
Arianne M. M. Angelelli: Psiquiatra infantil e perinatal, membro do departamento de saúde mental da Sociedade Paulista de Pediatria e do Ambulatório de Saúde Mental da Mulher do IPQ-USP, mestranda pela PUCSP.
Cristina Keiko Inafuku de Merletti: Psicóloga; psicanalista; especialista em Tratamento e Escolarização de Crianças com TGD/PSA-IPUSP; mestre e doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pelo IPUSP; sócia-membro do Lugar de Vida – Centro de Educação Terapêutica SP; docente titular do Programa de Mestrado em Educação e Subjetividade da Universidade Ibirapuera.
Sergio Gomes da Silva: Psicanalista, Pós-Doutor em Psicologia (USP), Doutor em Psicologia Clínica (PUC-Rio), Membro Efetivo do CPRJ, Membro do GBPSF. Diretor do Instituto Nebulosa Marginal.
Simone K. Niklis Guidugli: Psicóloga perinatal, clínica e hospitalar. Mestre e Doutoranda pelo IPUSP. Sócia-fundadora da Curae Psicologia.
Programa:
08:00h – 09:15 – Síndrome de couvade: a identificação feminina primária e a ancoragem da paternidade no corpo. O pai que une. (Arianne Angelelli)
09:15- 10:30 – Da Preocupação Materna Primária à Preocupação Parental Primária. (Simone Guidugli)
Intervalo 15 min
10:45 as 12:15- A experiencia do grupo terapêutico de homens: paternidade. (Alexandre Coimbra)
12:15- 13:30- almoço
13:30 -14:15 Depressão puerperal paterna: não é só a mãe quem deprime. Características dos quadros de doença mental paterna e suas repercussões (Arianne Angelelli).
14:15- 15:30 Paternidade, Terceiridade e Édipo (Sergio Gomes).
15:30 – 16:45h- O triângulo edípico sob o vértice paterno e suas repercussões no psiquismo do filho. A dimensão simbólica da filiação- o pai que separa. (Cristina Merletti).
intervalo 15 min
17:00 – 18:00 Filho, não vê que estou queimando? Paternidade e negritude – ser pai no contexto da sociedade brasileira. Caso clínico. (Simone Gidugli e Arianne Angelelli).
18:00 a 18:30 roda de perguntas aos palestrantes