O comportamento preconceituoso

Para além de uma questão racial, a gente está sofrendo uma questão de aniquilamento do humano.Você retira a humanidade das pessoas. Você retira do indivíduo a possibilidade de sentir, de pensar e de lidar com as adversidades. A vida- eu vou desapontar algumas pessoas agora- por si só é complexa e difícil ,ela não é facil, e ela não é simples. E nós precisamos entender que ela é difícil para todos nós, e precisamos um do outro para poder viver…porque… você pega lá um chicungunha, um zica virus, gripe asiática …que extermina a humanidade… acabou… a gente não tem o poder que a gente imagina que tem!

Por isso que a música é maravilhosa, a precisa sonhar mais, poder sonhar mais, a lua que eu imagino, pode ser a mesma lua que você vê e imagina diferente… a gente não pode ter medo de viver!

Claudinei Affonso

Este é um trecho da entrevista postada no link abaixo, do nosso querido psicanalista e professor Claudinei Affonso, um dos fundadores do blog Gesto Espontâneo.

O tema é racismo, mas vai além. A interdependência que temos uns dos outros e a dificuldade em aceitar o diferente, a questão da violência, aqui falada contra o negro e a mulher negra.

Interessante que no programa que aconteceu na radio há três anos, ele fala de algo que está acontecendo conosco agora, com a pandemia de COVID 19.

Gostaríamos de falar aqui sobre o estado de mente fascista: que assim como racismo e o preconceito, faz parte de todos nós. Um autor que estudou muito a obra de Winnicott, Christopher Bollas, tem um artigo intitulado ” O estado de mente fascista” em seu livro “Sendo Um Personagem”*. Ele é comentado pela professora doutora do Departamento de Antropologia da Unicamp, e também psicanalista, Amnéris Maroni:

A mente fascista não é parlamentar(com vários pontos de vista em confronto, em diálogo),

mas imperial: com um
único ponto de vista fixo.

Torna-se inumana. Para chegar a isso os fascistas
desencadeiam uma guerra permanente primeiro contra si – por meio de múltiplos assassinatos contra as partes de seu self amoroso, reparador, compassivo

– e depois contra os outros, eleitos para esse fim. Para eliminar toda a oposição interna, a mente fascista conta com a ideologia, crença, convicção – antídotos da dúvida, da hesitação –, convergindo para um campo de certezas.

Não existe espaço para a dúvida, para a alteridade, o diálogo.

Como é a mente fascista para a psicanálise? Quais defesas a constituem e,
particularmente, como se dá, nessa mente, o processo que a torna desumana? O Estado Fascista foi um movimento especial na história do mundo, com aspectos singulares e datado. Mas, como diz Bollas, fascista é agora uma metáfora no nosso mundo para tipos especiais de pessoas, e é possível reconhecer nelas um
determinado perfil psíquico.

Podemos observar uma polarização, uma simplificação do pensamento e o ódio ao outro aumentando no nosso país, carente de lideranças sensatas onde o vírus da incompreensão corre solto. Nada pode justificar a retomada de um governo autoritário, embora o medo possa gerar o desejo de uma ordem suprema que venha submeter a todos e todas , eliminando a possibilidade de contradição.

Para saber mais vale a pena ler o ótimo artigo de Amnéris Maroni:

http://pepsic.bvsalud.org/pdf/jp/v52n96/v52n96a07.pdf

*BOLLAS. Christopher. ¨O Estado da Mente Fascista¨. In: Sendo um Personagem. R.J. Ed. Revinter, 1998.